janeiro 01, 2011

- Sentimentos Complexos (Humor)




A presente obra - de caráter eminentemente narrativo - foi embasada na experimentação laboratorial do autor ao longo de 45 anos de envolvimentos sentimentais, sexuais ou simplesmente pornográficos; na observação diuturna da vizinhança do meu apartamento através de um Bushnell Falcon 10x50 Wide Angle Binoculars; em pesquisas meticulosas do material disponível no Google, no Facebook, nas comunidades do Orkut em geral, especialmente em conversas entreouvidas pelo Jarbas na Coiland Tavern*; e em depoimentos pessoais das testemunhas oculares da história, como o sr. Adalberto, o sr. Roland e o sr.Ueda, aos quais registramos aqui nossa incomensurável gratidão.
Esperamos colaborar com a ciência e com o enriquecimento pessoal de cada leitor ao desvendarmos os mistérios que, como um sapateiro do mal, assolam e assaltam a alma humana no que ela tem de mais vulnerável: a sua presuntiva inteligência.
(*) Valhacouto de ébrios, pensadores e putas na comunidade orkutiana "Os Dois Lados da Moeda".
     Jarbas é o garçom: polisexual, polipessoal, policretino, polido e gostoso.

(13 bilhões de anos e uns quebrados)


No Tempo do "Simplorium Erectus"

Ok, ok, tudo começa na perpetuação da espécie, aquele aparato hormonal e neurológico impregnado em nosso código genético, disparando impulsos libidinosos em direção a um (quase sempre) fantástico coito. Animal? Sim, mas é também vegetal. Até mesmo civilizações que, lamentavelmente, não usam o sexo como modalidade olímpica (será que existe algum prazer em bipartir-se?) exibem algum tipo de aproximação com assemelhados e outros ET’s. É, portanto, um fenômeno universal, biológico e indiscutível: transar é bom, útil, recomendável, faz bem e se configura imprescindível para nossa sobrevivência, além de nos recompensar com delíquios e frenesis dos quais não se tem notícia na história do mundo, a não ser, talvez, no de contar quem foi que você comeu.
Nada a ver com moralidade, pecado, honra, fraqueza de caráter, compulsão, signos zodiacais, traumas infantis ou mesmo outras vidas, mesmo que sexualmente amorfas como acontece com algumas sogras. Transar é muito bom, gostoso, bonito (atenção revisão: conforme a idade e peso dos protagonistas, é recomendável eliminar esse adjetivo) e, para dizer o mínimo, é barato, quando não sai “de grátis”.
Muito bem, isto posto, vamos sofisticar um pouco mais nosso raciocínio. Sobre uma atividade tão natural e prazerosa, alguns animais – entre os quais nossa neurótica espécie – resolveram estabelecer certas regras, padrões, ritos, superstições e liturgias a serem cumpridas antes de, digamos assim, molhar o biscoito. Alguns cantam, outros se estufam, se mijam, se estapeiam, se mordem ou chifram conforme o caso, esperam a vez quando não tem outro jeito, criam haréns e outros, menos altruístas,tornam-se predadores solitários e vão fodendo com tudo que encontram pelo caminho. Há ainda, pasmem, aqueles que não se arriscam, se escravizam mutuamente e selecionam um parceiro exclusivo para garantir a bimbadinha de todo sábado.
Até aí, a coisa toda é relativamente simples. Mas estamos tratando de humanos e, por definição, nada poderá ser simples com esses bípedes fornicadores. Segundo informações de fontes supostamente fidedignas e sérias, somos a única espécie que pensa. Não riam, dizem que somos capazes disso ou, pelo menos alguns de nós, derivaram por essa desprestigiada forma de sobrevivência. O fato é que temos consciência de nossos atos, da passagem do tempo, e antecipamos os efeitos de nossas ações, ou seja, logo estávamos botando a cachola para funcionar a fim de elaborar meios eficazes de transar ao máximo com o mínimo esforço. Descobrimos o fogo para esquentar a pizza, a roda para dar um rolê, a moeda para eliminar rivais e, posteriormente, arrumar uma boquinha para milhares de cumpanheros nem tão economistas assim. O resultado de todo o imbróglio é que aqueles impulsos lá de trás, atávicos, simples e diretos, se transformaram em sentimentos complexos. O prezado cavalheiro ou a senhorinha curiosa agora perguntariam: - Será o amor um sentimento complexo? E eu, cordialmente, responderia: - Sim, gentis antas, é sim!
Para ter uma idéia da complexidade do tema, em milhares de anos não existiu um gênio sequer - cientistas, poetas, escritores, pensadores, desocupados como eu, babalorixás, pastores, cônegos, cineastas, compositores (inclusive os de bolero), filósofos, pedófilos, garçons, donas de casa, ufologistas e até mesmo psicólogos – que lograsse chegar a um conceito enunciável do que é o amor. A razão é simples: em virtude de tudo que acima foi cientificamente explanado, este sentimento é uma mixórdia, uma mistureba de instintos com afetos, tesão com frustrações, medos com poder, auto-estima com piedade, enfim, uma sopa de impulsos, emoções e preconceitos de difícil digestão para qualquer estômago, que dirá para as pobres gônadas.
Mais uma vez, o impaciente cavalheiro e a pressurosa senhorinha perguntarão: - Pretenderá o tergiverso autor se arvorar em messias de tal polêmica? Incontinenti respondo, antes que o façam de maneira nefasta: - Não, apenas decidi, em virtude de tamanha confusão, me desvencilhar de algumas ideias pré-formatadas e preconceituosas que levam algumas mulheres, senão a maioria, a me qualificar, quando estão tolerantes e distantes de qualquer espécie de TPM, como chauvinista e galinha.
Dito isto, voltemos ao sentimento complexo, sem nenhum pudor.
Quando aquele infeliz do Adão, após comer a maçã (e a Eva), resolveu ficar com ela (a Eva) em virtude de uma momentânea escassez de vulvas na praça, os problemas começaram. Em vez de rodarem por aí - já tinham sido expulsos do Éden - comendo o que (e quem) encontrassem, ambos, por puro comodismo, resolveram ficar juntos, precisando, pois, de um lugar para chamar de seu (vejam bem, um pronome possessivo). Logo, a epidemia se alastrou como propina em véspera de eleição: esta é minha moita, aquela a minha caverna, este é meu tacape e, óbvio, este é meu homem, concluiu Eva precipitadamente. Estavam entrando no oitavo dia, quando a simplicidade se afastou da criação e nunca mais as coisas seriam o que parecem. Surgiu o sentimento de posse e, como corolário inevitável, a exclusividade afetiva e sexual.
- Eu amo minha mãe! Exclamou Adão estupefato.
- Tá bom, tá bom - disse uma Eva interessada na futura aposentadoria - eu mesma vou acabar sendo uma, além do que, mãe é mãe, como diz o futuro ditado, mas não me vá transar com ela.
- Eu amo meus filhos! Proferiu, convictamente, Adão.
- Eu também, filho é diferente, então vamos amá-los, concluiu a primeira esposa.
- E os amigos? Eu os amarei também? Explorou Adão...
- Você ama mesmo é ficar no boteco com eles, mas vá lá, também vou ter que suportar aquelas peruas lá do shopping, portanto amar os amigos também será tolerado, mas desde que eu venha em primeiro lugar, é claro.
Acreditando que tudo estava caminhando às mil maravilhas, o filho da lama, desavisadamente, revelou:
- Eu amo minha secretária!
Após a gamelada que lhe aplicou no topo da careca (sim, Adão já estava ficando careca por esta época, e adiposo), Eva esclareceu de maneira afável e pedagógica:
- Seguinte, seu cachorro, mesmo sendo um merda, você é o MEU homem e, fora as exceções que combinamos, você não ama mais ninguém, entendeu! Nenhuma sirigaita vai sair por aí desfilando com uma folha de parreira que deveria ser minha!


Não percam o próximo capítulo
desta emocionante e reveladora série:

Spartacus se Revolta contra Roma

Visitando este tópico como se visitante fosse, deparei-me com o anúncio acima, em letras garrafais, e constatei, consternado, que não lembro onde deixei o texto que dá sequência à série sobre a história do amor e sua formação enquanto sentimento complexo.
Porém, tal fato desperta outro sentimento complexo em mim: o medo. Sim, o medo de ser descoberto relapso, incompetente, senil, dúbio ou, até mesmo, enganador.
Assim, para fazer hora enquanto procuro onde está o maldito texto, vou explicar para vocês o motivo de tão súbito e inexplicável desaparecimento:


Memória

Eu nasci com um defeito que me foi quase fatal: minha memória. Creio que foi produzida por um cardume de sardinhas e importada, via Paraguai, por um jegue distraido. Esqueço quase tudo; já era uma lástima no pré-primário, chamando os coleguinhas de querido ou querida, conforme o caso, só para não precisar passar pelo sufoco de lembrar dos nomes. Com o passar do tempo, essa mania levou a fortes questionamentos sobre minha sexualidade futura, especialmente por parte do meu assaz analítico progenitor. Papai era um homem muito justo: se o eventual pecado era da carne ele, didaticamente, aplicava a, digamos, reorientação impactante sobre a vil matéria pecaminosa. Contudo, no caso, a hipotética suspeita recaia sobre um pecado do espírito e, salomonicamente, ele se valia da carne apenas e tão somente como condutora da mensagem edificante para aquela coisa obscura e fugidia que o cinto não lograva encontrar. Assim, logo após a segunda sessão terapêutica, lembrei de tudo, os meninos tinham nome, ô cara! Mas as meninas, talvez por falta do corretivo, talvez por se desvelarem tanto quando assim consideradas, continuaram queridas.
Mas aquilo que já era ruim, piorou. Tabuada, datas históricas, nomes de cabos, penínsulas, países, capitais, navegadores, presidentes, pedaços de animais e plantas, nada alcançava nada além dos tímpanos e pupilas do senhor reitor. Imagine: o verticilo externo ou cálice é formado por várias sépalas. O verticilo seguinte, o androceu, agrupa vários estames, que produzem nas anteras o pólen necessário para a reprodução. O verticilo mais interno é o gineceu, formado por vários carpelos, em muitos casos soldados em um pistilo. Cada carpelo contém pelo menos uma placenta, na qual estão os óvulos ou sementes imaturas. Cálice e corola formam em conjunto o perianto. Fodeu.
Na tentativa desesperada de sobreviver a esse exército de neurônios claudicantes e sinapses displicentes, alguma coisa tinha que ser feita. A primeira delas demorava um pouco, mas apresentava resposta: já que eu não sabia nem a pau o resultado do misterioso 7 x 8, refazia mentalmente o cálculo de 10 x 8 (fácil, era só mudar o zero de lado), depois somava a diferença de 7 para 10 (fácil, é 3, basta tirar nos dedos) as mesmas 8 vezes (cuidado, a contagem das vezes que você soma é muito delicada) e descobrir o 24. A partir daí, para finalizar triunfalmente, nada mais simples: tirar 20 de 80, abstraindo o zero, também é uma operação de dedos. Descoberto o 60, simplesmente contava 4 vezes para trás e proferia em voz alta e vitoriosa, orgulhoso: 56!!! Normalmente me mandavam calar a boca, pois já estávamos na aula de história e a data não era aquela.
História é outro exemplo das soluções que fui encontrando para suprir de respostas o nada absoluto onde deveria residir minha capacidade decorativa. Primeiro: não tente advinhar. A História é tão cheia de acontecimentos que a sua probabilidade de erro num chute é igual a... 56 (lembra do 7 x 8?), só que elevado ao cubo (você há de perguntar o que tem a ver a geometria com a aritmética, isso é mais um mistério insondável, entretanto acontece). Ou seja, em História, se você chutar, a sua margem de erro é de (7 x 8)³, ou mais. Eu, zelosamente, pegava o nosso Toynbee ginasial no começo do ano e lia inteirinho, de cabo a rabo. Já dava para entender o que vinha antes e o que vinha depois, constatava que o Pedro Alvares Cabral não manquitolava como o Capitão Gancho e que, se não fosse o tal de Vasco da Gama (esse também era fácil: Fla, Flu, Botafogo e Vasco) ter descoberto o cabo da Boa Esperança (aquela outra ponta do lado de baixo do mapa - dos africanos - em oposição ao cabo das Tormentas - que é nosso) o pentelho do Pedro não teria se mandado do Tejo (para mim, o rio da minha aldeia do Fernando Pessoa, que eu lia escondido). Eu sei que ia construindo a minha história com alguma coerência, podia errar as datas por alguns anos (vá lá, séculos), mas era incapaz de fazer como alguns universitários de hoje que identificam Isabel de Castela do Decreto de Alhambra com a Princesa Isabel da Lei Áurea, sem nenhuma noção cronológica ou geográfica, ou mesmo racial e carnavalesca.
Eu já esquecí porque comecei a escrever esse texto, mas quero aproveitar para dizer que, hoje, utilizo centenas de truques mnemônicos (naquela época não ensinavam os truques, só mostravam as mágicas), para lembrar de coisas simples às mais complexas. Há exceções, é claro, como minhas opiniões filosóficas, políticas e religiosas. Toda vez que me propõem um tema dessa envergadura, como não lembro de qual é minha opinião, prefiro pensar novamente tudo que envolve aquela palpitante questão para proferir, categoricamente, a minha conclusão definitiva sobre o assunto. Só sei que, de tanto pensar e repensar, acabei chegando às opiniões mais antagônicas, controversas, concorrentes, díspares, opostas e as defendo, a cada vez, com um vigor inigualável quando se trata de tomar este partido ou aquele. Qual?
Respondo quando eu me lembrar sobre o que estávamos falando. Você sabe?


Consumo Amoroso



Experimente!  É mais macio, mais docinho e mais molinho!



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Um comentário:

Rose Я . disse...

Você é um adorável gozador da vida, em todos os sentidos. Me senti prestigiada em ser escolhida para dar a minha "abalizada opinião de intelectual", mesmo sabendo q/ não havia necessidade. Te ler é um prazer imenso, só não maior q/ te ouvir e, saber q/ seus escritos estão ao alcance dos meus olhos, com um simples clic, poder conhecer e entender melhor seus sentimentos, me deixa muito feliz.Parabéns pelo Blog, ele está lindo...espero ter tudo isso em um livro, com um autógrafo e uma dedicatória exclusiva, em breve...rs
Bjos admiradores.